Atualmente existem consultas de Estomaterapia na maioria das unidades hospitalares e em alguns serviços de saúde na comunidade, em Portugal continental e ilhas. Desde 1991, ano em que sugiram as primeiras consultas de Estomaterapia em Portugal, foi grande a evolução e o desenvolvimento de valências nesta área, para tal contribuiu a formação e aquisição de competências específicas em Estomaterapia. A Associação Portuguesa de Enfermeiros em Estomaterapia reconhece os ganhos em saúde que a diferenciação dos cuidados em Estomaterapia possibilitou à pessoa com ostomia e respetiva família.
Foi Alexis Littré (1558 – 1725) quem apresentou pela primeira vez em 1710 a ideia de uma colostomia para tratar a atresia anal. De acordo com seu método a saída artificial estava no lado esquerdo do abdômen, na região da virilha.
O cirurgião britânico William Cheselden (1688-1752), foi um dos cirurgiões mais prestigiados do século XVIII. Em 1750, ele operou uma paciente a inglesa Margaret WHITE, de 73 anos, considerada a primeira paciente ostomizada da história.
Sciencephoto.com/media/693180/view/colostomy-18th-century
Descrição cirúrgica da técnica de Amputação Abdomino Perineal de Miles, com colostomia terminal.
Foi publicado o 1º artigo sobre o cuidado diferenciado em Estomaterapia.
https://journals.lww.com/ajnonline/citation/1934/06000/the_management_of_a_colostomy.9.aspx
No século XX a técnica cirúrgica evoluiu significativamente com aumento significativo da sobrevida. Exemplo dessa evolução foi a técnica cirúrgica Bricker para derivação do trato urinário após a excisão vesical. A construção da urostomia com a técnica de Bricker, demonstrou resultados surpreendentes que fazem com que ainda hoje seja uma das técnicas usada com maior frequência.
Descrição cirúrgica da técnica de derivação urinaria de Bricker, pós cistectomia
https://beckerarchives.wustl.edu/VC266-S33-B07-i12
Todavia, foi com Norma Gill que se iniciou a arte e ciência da “Enterostomal Therapy”. Surgindo o conceito de que a pessoa com ostomia necessitava muito mais do que uma boa e efetiva técnica cirúrgica para a sua reabilitação, introduzindo a empatia, a informação e a capacitação para o autocuidado, bem como a importância de materiais adequados. Esta forma de intervir veio colmatar a tendência de então, em que a pessoa com um estoma recém-formado estava fortemente dependente do cirurgião, do fabricante de materiais e/ou grupos de autoajuda. A nova abordagem impulsionou o movimento que deu início a um programa educacional em 1961, tendo como coordenadores e formadores, Rupert Turnbul e Norma Gill, no Centro de Formação na Clínica de Cleveland Foundation. Inicialmente um programa de treino para profissionais de saúde e pessoas com ostomia, focando apenas os aspetos práticos relativos ao cuidado ao estoma. Contudo, os profissionais de saúde adotaram este conceito e rapidamente se transformou num centro de treino, sendo fundado o primeiro curso oficial, tornando-se assim um centro decisivo e importante para o desenvolvimento dos cuidados à pessoa com ostomia.
Abertura nos EUA da primeira Escola de Cuidados à pessoa com ostomia e uma preocupação com a inovação dos materiais para o cuidado nos estomas de eliminação urinária e intestinal.
Durante o ano de 1970, o novo conceito de “Enterostomal Therapy” espalhou-se rapidamente para outros Estados Norte Americanos, seguindo-se a Austrália, o Canadá, a Nova Zelândia, a Inglaterra e a África do Sul. Estes países considerados os primeiros a desenvolver e organizar a formação na área da Estomaterapia através da implementação de cuidados especializados e do reconhecimento do “cuidado dos estomas” como uma especialidade clínica de enfermagem, prosseguindo posteriormente para outros países como a França e a Itália. Neste contexto, começaram a surgir novos cursos pós-graduados, investimentos na área da investigação e no desenvolvimento de novos materiais (dispositivos coletores, protetores cutâneos). O crescente interesse pela estomaterapia, a nível mundial, levou à realização de conferências e congressos, proporcionando a troca de experiências e conhecimentos. Para que fosse possível a representação da realidade de cada país, surgiu a constituição de um órgão representativo a nível internacional, sob a liderança de Norma Gill, que se efetivou em 1978 pela criação da World Council of Enterostomal Therapists (WCET), constituído por 30 enfermeiros de quinze países. A organização também incluía representantes da indústria de produtos hospitalares.
O WCET definiu como objetivo, promover a identidade da Estomaterapia no mundo e o intercâmbio internacional entre especialistas, possibilitando o desenvolvimento técnico e científico nesta área, através formação pós-graduada certificada. Focando também a padronização de protocolos, promovendo a melhoria da qualidade do desempenho profissional, o aumento da qualidade assistencial, não só para a pessoa com ostomia, mas também direcionado à pessoa com feridas agudas e/ou crónicas, nas áreas da incontinência fecal, urinária e fístulas.
Em 1980 a Estomaterapia passou a ser uma especialidade designada pelo conselho científico da WCET e reconhecido o Enfermeiro Estomaterapeuta. Este é definido como o profissional que possui conhecimento, treino específico e habilidades para o cuidar de pessoas com estomas, de feridas agudas ou crónicas, fístulas e incontinência fecal e urinária. Neste contexto, começaram a surgir novos cursos pós-graduados, investimentos na área da investigação e no desenvolvimento de novos materiais (dispositivos coletores, protetores cutâneos). O crescente interesse pela estomaterapia, a nível mundial, levou à realização de conferências e congressos, proporcionando a troca de experiências e conhecimentos.
As primeiras consultas de Estomaterapia surgiram em Portugal em 1991 e foram regulamentadas pelo Despacho do Ministério da Saúde de 24 de Fevereiro de 1995, pelo então Ministro da Saúde, Dr. Paulo Mendo.
A 14-09-1995 foi também Emanado o Despacho 25/95, Min. Saúde, DR , II Série, n.º 213, 14-09-1995, que contempla as indicações para a comparticipação de material de ostomia pelo Serviço Nacional de Saúde,. Esse despacho esteve vigente até 2017.
Despacho 25/95, Min. Saúde, DR , II Série, n.º 213, 14-09-1995 – Comparticipação de material de Ostomia pelo Serviço Nacional de Saúde
(Transcrição integral do Despacho 25/95 do Ministério da Saúde, publicado no “Diário da República”, II Série, n.º 213, de 14-09-1995.)
“Despacho. – 25/95. – A comparticipação a atribuir pelo Serviço Nacional de Saúde aos utentes carenciados de sacos de ostomia foi fixada pelo Desp. N.º 11/90, publicado no DR, 2ª, 159, de 12-7-90. Tornando-se necessário atualizar a referida comparticipação, face à evolução dos respetivos preços de mercado, determino:
1 – A prescrição dos sacos e acessórios é da competência do médico especialista ou do médico de família responsável pelo doente.
2 – Os sacos de colostomia e ileostomia são comparticipados pelo Serviço Nacional de Saúde em 90% do seu custo, com o limite de 400$ por saco.
3 – Os sacos de urostomia são comparticipados pelo Serviço Nacional de Saúde em 90% do seu custo, com o limite de 500$ por cada saco.
4 – Os acessórios para os sacos de ostomia são comparticipados pelo Serviço Nacional de Saúde em 90% do seu custo.
5 – A comparticipação referida nos números anteriores destina-se aos utentes do Serviço Nacional de Saúde e poderá ser anualmente ajustada atendendo à evolução dos preços dos sacos de ostomia.
6 – É revogado o Desp. 11/90, publicado no DR, 2ª, 159, de 12-7-90.
21-8-95.- Pelo Ministro da Saúde, o Secretário de Estado da Saúde, José Carlos Lopes Martins.
Em 2003 é fundada a European Council of Enterostomal Therapy (ECET), uma organização aberta à participação de todos os profissionais de saúde europeus envolvidos no cuidado à pessoa com ostomia. Novas organizações surgiram e desenvolveram programas de formação para enfermeiros em vários países. Em Portugal, os primeiros Enfermeiros Estomaterapeutas formaram-se em universidades espanholas, francesas e inglesas, cujos cursos de estomaterapia eram acreditados pelo WCET.
A Associação Portuguesa de Enfermeiros de cuidados em Estomaterapia nasce a 18 de Janeiro de 2005.
A primeira reunião da APECE decorreu em Coimbra a 29 de janeiro tendo angariado os seus primeiros 43 sócios.
Este foi um marco na história da enfermagem de Estomaterapia em Portugal. Estatutariamente a APECE surge como com um órgão representativo dos enfermeiros de cuidados à pessoa com ostomia, promovendo actividades educativas e formativas para a promoção de cuidados de qualidade à pessoa com ostomia.
A Apece iniciou a construção de referênciais nacionais em Estomaterapia, com os primeiros passos do Guia de Boas Práticas em Estomaterapia de acordo com os Enunciados descritivos dos Padrões de Qualidade da Ordem dos Enfermeiros
https://www.ordemenfermeiros.pt/media/8903/divulgar-padroes-de-qualidade-dos-cuidados.pdf
Primeiro Curso de Formação Avançada em Estomaterapia em Portugal, que decorreu na Universidade Católica de Lisboa, abrindo caminho para a reconhecimento e certificação pelo World Council of Enterostomal Therapist.
Surge neste ano a primeira publicação Portuguesa sobre Cuidados em Estomaterapia. Criada pela APECE para orientar os enfermeiros portugueses no cuidado à pessoa com ostomia respiratória, de alimentação e de eliminação, constitui-se com uma ferramenta fundamental para a sistematização e fundamentação da prática de cuidados em Estomaterapia.
Para agregar os Enfermeiros de Estomaterapia a APECE organizou Workshops nacionais para criação de consensos e uniformização de praticas. O primeiro consenso nacional resultou no memorando de classificação de lesões cutâneas peri-estoma e algoritmos de decisão que permitiram o uso de uma terminologia transversal a nível nacional.
Iniciam-se ciclos de ws nacionais sobre diversas temáticas.
Primeiro Estudo Nacional com objetivo de Determinar a Prevalência de Lesões Peristoma em Pessoas com Ostomia de Eliminação. Promovido pela APECE, com participação de 10 centros hospitalares e uma amostra de 350 doentes.
Criação do grupo de trabalho da Direção-Geral da Saúde (DGS).
A APECE foi convidada a integrar este grupo de trabalho, como consultora, na construção das normas de orientação clinicas nas ostomias de alimentação, respiratórias, eliminação intestinal e urinária, que constituem uma referência nacional para as Boas Práticas em Estomaterapia.
Internamente o Projeto dos Núcleos Regionais surge em 2017 para aproximar a APECE dos seus associados, tendo sido criados 3 núcleos a nível nacional. O núcleo sul e ilhas realizou varias reunioes de trabalho, promovendo o envolvimento dos enfermeiros de Estomaterapia destas regiões na uniformização de praticas e estratégias de articulação entre contextos de cuidados. Os resultados deste projeto foi apresentado numa comunicação cientifica no European Council Enterostoma Therapist Congress em Roma, 2019.
APECE foi consultora do Infarmed na organização e classificação de dispositivos de ostomia e criação de critérios técnicos de qualidade, passo inicial para o acesso aos dispositivos em Regime de Comparticipação de acordo com a Portaria 92F/2017.
A APECE integrou o grupo de trabalho da Ordem dos Enfermeiros na estruturação do Regulamento de Competência Acrescida Diferenciada e Avançada em Estomaterapia. O Regulamento 398/2019 publicado no Diário da República, 2.ª série — N.º 86 — 6 de maio de 2019.
Com o objetivo de facilitar o processo de transição da pessoa para a vida com uma ostomia, surge o Projeto APPOSTOMIA, que reúne conhecimento cientifico e tecnologias digitais de informação.
Surge, com orgulho, no ano de 2021, a 1ª newsletter APECE, criada para dar voz aos enfermeiros com interesse e paixão pela imagem, pelas palavras, pela partilha de opiniões, noticias, curiosidades.
A NL APECE pretende ser abrangente, transversal, atual e integrativa, graças à participação de todos os que, diariamente, promovem e dignificam o exercício da enfermagem de estomaterapia.
https://www.appostomia.com/
Com o objetivo de promover o acesso a formação Pós graduada em Estomaterapia a Apece promove parcerias académicas com coordenação pedagógica partilhada, promovendo a difusão do conhecimento e das boas práticas em Estomaterapia a nível nacional .
Surge em Janeiro de 2022 a 1ª Edição da PG de Estomaterapia da Escola superior de Saúde do Vale do Ave, com co-coordenação pedagógica APECE, certificada pela Ordem dos Enfermeiros para acesso à atribuição de competência acrescida diferenciada e avançada em Estomaterapia.
Como forma de apoio ao conhecimento e investigação em Estomaterapia e numa perspetiva de formação e de divulgação, a APECE, com a bolsa ISABEL MORAIS propõe-se subsidiar a participação de enfermeiros com interesse em Estomaterapia em ações dessa área de cuidados.
Considerando que há interesse recíproco em promover a colaboração e partilha de natureza científica, pedagógica, académica, tecnológica e cultural na área da Estomaterapia, bem como no desenvolvimento de ações e trabalhos científicos e tecnológicos conjuntos de benefício mútuo, atinentes às missões a que ambas as organizações acordantes se dedicam, foi formalizada em Julho de 2023, um protocolo de cooperação entre a APECE e a ESELisboa.
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